Por: Pedro Pontigor Pacheco
Coordenação: Thais Motelevicz Martins dos Santos – advogada do escritório Ribeiro & Albuquerque – Advogados Associados
A quantia média de roupas produzida anualmente no mundo é de 150 bilhões de peças de forma que atualmente, utilizamos 36% menos peças de roupas do que à 15 anos atrás. Nesse sentido de hiperprodução e hiperconsumo, têm-se que a poluição do solo e da água, bem como o descarte de roupas evidenciam um certo colonialismo moderno no que diz respeito ao Norte Global (países desenvolvidos e ricos economicamente) que utilizam os países do Sul Global (países em desenvolvimento e que possuem grandes desigualdades em padrões de vida) como forma de doação de roupas, trazendo uma certa visão de desigualdade uma vez que os produtos que seriam quantidades em um determinado local, em outro seriam utilizados como necessidade.
Os tecidos, em sua maioria das vezes costurados por mulheres e fabricados em países como a Índia ou Bangladesh, são exportados à países europeus através de preços muito baixos e após pouca utilização dos produtos do público no continente europeu, 70% das roupas retornam aos países de origem de suas confecções.
Hadeel Osman, estilista e diretora no Sudão do Fashion Revolution, um movimento que visa a conscientização sobre os impactos socioambientais do setor, bem como incentiva a sustentabilidade e transparência de todos os envolvidos na produção na indústria da moda, explicou como funciona o desenvolvimento da dinâmica nos países do Leste Africano e as implicações no mercado, bem como sobre sua população.
A estilista afirma que no Sudão e no Leste Africano, as roupas de segunda linha além de serem a principal fonte de roupas para seus cidadãos, ocupam a maior parte do mercado de roupas. Os níveis de roupas de segunda linha, vão além de mercados de rua (a mais acessível, pois depende de comerciantes independentes que importam contêineres de países ocidentais), até as butiques (que dispõem de itens exclusivos de marcas ou antiguidades) ou revendas em mídias sociais.
Os citados tais produtos, geralmente vêm dos EUA e da Europa, e uma pequena quantidade da Ásia e da Península Arábica, pois as peças utilizadas no Ocidente, são em sua maioria doadas às instituições de caridade ou até mesmo para brechós, onde ocorre a venda destes ou o envio para países do continente africano através da exportação marítima. Cumpre informar ainda, as peças que não podem ser comercializadas em razão de defeitos no design, muitas vezes também são doadas às instituições de caridade ou igrejas.
Questionada sobre a interferência na economia de seu país sobre produtos de segunda mão em relação ao mercado de roupas, Hadeel afirmou que a situação econômica de seu país está há muitos anos em declínio, porém o acesso às informações sobre os mercados de segunda linha é limitado. Porém, é certo de que as pessoas que estão cientes de tal mercado, têm uma probabilidade maior em adquirir os produtos tendo em vista sua facilidade quanto ao acesso, assim como aos valores a serem desembolsados.
A estilista, por fim acredita que para uma solução quanto aos problemas apresentados, é a união dos governos uma vez que para a União Africana é uma grande oportunidade agir diretamente no controle da entrada de roupas de segunda mão em seus países através de fronteiras, bem como capacitar a indústria têxtil local com a finalidade de que os abusos
praticados por países da América e Europa e por empresas de moda não ocorra com os países africanos menos favorecidos.
Um exemplo a ser ressaltado ocorre no fluxo EUA-Haiti, onde as roupas descartadas pelos americanos vão para os mercados haitianos. O questionamento levantado em questão é de que o consumismo em países mais favorecidos acarreta aos países menos favorecidos a utilização por necessidade sobre tais produtos que não foram utilizados, razão pela qual o colonialismo é evidente em tal situação.
Matéria: https://www.cartacapital.com.br/blogs/fashion-revolution/para-onde-vai-tanta-roupa-o-colonialismo-moderno-disfarcado-de-doacao/